Os atores no início da série, em 2008. Da esquerda para direita: Simon Baker (Patrick Jane), Owain Yeoman (Wayne Rigsby), Robin Tunney (Teresa Lisbon), Tim Kang (Kimball Cho) e Amanda Righetti (Grace Van Pelt)

O que nos atrai em O Mentalista

Fernando Barreto
9 min readJan 10, 2021

A série de Bruno Heller, O Mentalista, foi filmada entre 2008 e 2014. Com sete temporadas, o seriado acompanha Patrick Jane (Simon Baker), um californiano que possui dons, eu diria, sobrenaturais, mas não são. Jane apenas tem o dom da observação. Ele sabe analisar expressões faciais e movimentos. Basicamente um olhar afiado e um olfato aguçado.

Bem brevemente, O Mentalista conta sobre um homem, Patrick Jane, que trabalhava como médium, e ganhou a vida enganando pessoas com seus dons. Ele era muito bom. No decorrer dos episódios, descobrimos que Jane trabalha para o CBI, sigla em inglês para Agência de Investigação da Califórnia. Com seus dons, o mentalista auxilia na solução de crimes a equipe de Teresa Lisbon, que é composta por Kimball Cho, Wayne Rigsby e a novata Gracy Van Pelt.

Essa cooperação começa quando Jane, com seu ego elevado, esnoba um serial killer da Califórnia, denominado Red John. Ao vivo, Jane rebaixa e satiriza o assassino. Porém, ao chegar em casa, enfurecido pelas palavras do médium na televisão, Red John mata a esposa e filha de Jane. Isso aterroriza o protagonista, que passa a querer justiça e então entra para o CBI em busca desta vingança pessoal. Vale ressaltar aqui a atuação de Simon Baker, que faz transcender o medo que sente por Red John e a angústia por ser o responsável pela morte da esposa e filha.

Resumidamente, é assim que a série funciona. O que Jane faz parece mágica. Ao chegar na cena do crime, já consegue decifrar o que aconteceu, ou chega bem próximo. Descarta suspeitos, por conseguir ver ou sentir (?) que falam a verdade. Isso, claro, enfurece Lisbon, a chefe dessa divisão do CBI para qual Jane trabalha.

Mas não quero aqui fazer um resumo da história, ou dizer os pontos positivos e negativos da série. Sou um grande fã, e em 2020 foi a melhor série que pude assistir. Na verdade, este é mais um texto que procura analisar o que tem no seriado que nos atrai. Ainda que já tenha assistido e não gostou, pode se interessar pela leitura. Separei seis pontos que vejo como positivos e cativantes em O Mentalista e que difere a série de outros filmes e seriados policiais.

O carisma de Jane

O Mentalista é uma série policial. Sem a seriedade de programas como CSI ou Law and Order, mas também sem ser muito animada. A tensão vem da solução dos crimes em cada episódio e das incertezas sobre quem é Red John. Ao longo das temporadas, Jane vai se aproximando mais dessa resposta, e a séria incorpora tons mais sérios.

Mas sem sombra de dúvidas, o primeiro ponto que nos atrai para assistir O Mentalista é o carisma de Patrick Jane, que consegue trazer leveza para o seriado. Há quem o julgue arrogante. E é, até certo ponto, principalmente na primeira temporada. Ele se diz mais inteligente do que todos abertamente. Mas é aí que Bruno Heller acerta. Jane tem mesmo uma mente fora de série, é um dom. Apesar de o protagonista não olhar desta maneira. Pode ser sim uma inteligência impossível de existir, mas é assim que funciona o seriado.

Patrick Jane passou a usar esses dons de forma útil e de uma maneira que ajude outras pessoas. Ao longo da série, Jane vai sendo desafiado pelos criminosos que persegue — vai provando sua inteligência. Até chegar no grande “boss”, o Red John.

Em todos esses momentos, sua confiança aumenta, mas a arrogância não, pois ele percebe que sozinho ninguém faz nada e cada integrante da equipe necessita do outro.

Mas o carisma que Jane apresenta nos episódios, dando risada em momentos sérios, conquistando e cativando outros personagens, elaborando planos sofisticados para prender um bandido. Tudo isso fascina quem assiste, e é um ponto crucial da série. Todos damos risada quando Jane afirma algo sobre a vítima em cena, e todos contestam. Passam-se minutos e algo surge para comprovar o que ele acabara de dizer. Impossível não rir junto dele.

Ou então quando o personagem provoca outros em cena. Principalmente quando se trata daqueles ricos da Califórnia.

Palmas para Simon Baker, que soube trabalhar bem o personagem.

Discussão filosófica

A série também vai além do que seja comum em seriados deste gênero. Este é o segundo ponto de destaque em O Mentalista. Por diversos momentos, principalmente quando agente Gracy Van Pelt está presente, surgem discussões filosóficas: “Deus existe?”, “Você tem um dom divino”, “Para onde vamos após a morte?”.

Jane também é um leitor compulsivo. Já leu de tudo. Clássicos da literatura inglesa, até livros sobre tubarões. Isso é interessante e admirável. A inteligência de Jane, a intelectualidade do personagem, faz o telespectador desejar o mesmo. Muitas vezes me vi pensando: “Eu poderia ler mais”.

E esse incentivo é feito para os demais integrantes da equipe. Cho, um dos agentes da equipe de Lisbon, passa a ler compulsivamente. Enquanto “acampa” nas residências de suspeitos pelos crimes, pega seu “livrinho” e começa a ler.

Assim, digo que o segundo ponto de destaque da série é a inspiração e incentivo pela busca do conhecimento.

Os personagens

Já falamos especialmente de Patrick Jane, que tem lá suas arrogâncias, mas ainda cativa o telespectador. Mas claro que a série tem outros personagens além do médium. A equipe inteira da Lisbon ganha nossos olhares. Passamos a admirar cada um ao longo das temporadas. Vemos suas qualidades e defeitos, mas ainda sentimos como se fôssemos amigos.

A começar pela líder, Teresa Lisbon (Robin Tunney), que por ser mulher e comandar uma grande equipe de agentes especiais, é fascinante. A série também explora a intimidade de Lisbon. Vemos ao longo do seriado que ela tem um passado difícil. O relacionamento familiar com os irmãos é bem frágil. E por incentivo de Jane, ela vai melhorando essa relação.

Kimball Cho (Tim Kang) é o mais sério de todos e o mais centrado. Tanto que em determinado episódio, há uma troca de posto, e Cho é quem passa a comandar a equipe. Tamanha é a qualificação profissional dele. Como dito, os personagens tem suas vidas pessoais exploradas até certo ponto (poderia ser mais). No caso de Cho, descobrimos que ele já fez parte de gangues, que geram grandes enredos para a série. Seus relacionamentos amorosos também são abordados. Não irei citar nomes para não dar spoilers, mas uma é muito importante em partes da série.

Os dois últimos são Wayne Rigsby (Owain Yeoman) e Grace Van Pelt (Amanda Righetti). Quase impossível falar de um e não lembrar do outro. Por isso, vou emendar aqui o próximo ponto que nos cativa em O Mentalista.

Romances

Como é normal em qualquer seriado, existem as relações amorosas entre os personagens. Não é um spoiler dizer que torcemos por Wayne Rigsby e Grace Van Pelt. Jane já deixa claro para todos, logo no primeiro episódio, que o agente tem uma “queda” pela novata que acabara de ingressar na equipe.

Vale ver até a sétima temporada para saber o que acontece. Mas de qualquer maneira, a relação de ambos é muito bem estruturada. Como uma relação entre jovens, que trabalham juntos e se amam. Torcemos para que dê certo, nos zangamos quando fazem uma besteira com o outro.

A relação vive altos e baixos, seja por questões profissionais, ou por situações geradas pelo relacionamento. Casais brigam e é normal. Mas é como se fôssemos parte do grupo, e queremos vê-los juntos e felizes. Será que acontece isso? Vale ver até o fim.

Outro romance que torcemos para dar certo, apesar de ambos esconderem de si mesmos e do outro a paixão, é entre Patrick Jane e Teresa Lisbon. Segundo li o criador, Bruno Heller, não planejava criar laços amorosos entre os dois personagens principais. Novamente, vale ver até a sétima temporada para saber o que acontece.

De qualquer maneira, torcemos pelos quatro. Queremos que fiquem juntos, se casem, tenham uma família. Muita água ainda passa por debaixo dessa ponte, mas sempre estamos alí, torcendo pelo melhor.

Somos parte da equipe

No quinto ponto, observo que a série de Bruno Heller consegue trazer o telespectador para junto da equipe de Lisbon. É como se fôssemos parte do CBI. Como se tivéssemos entrado junto de Patrick Jane na equipe. Atuando na investigação em cada caso e ajudando o protagonista a encontrar Red John.

Isso acontece, pois, nos primeiros episódios temos certo rancor de Jane, pela sua arrogância. É o mesmo que a equipe de Lisbon sente dele.

E além do rancor pelo protagonista, o fato de não sabermos, nunca, quem é o assassino do episódio faz-nos sentir integrante do CBI. Diferente da série CSI, por exemplo, onde vemos o crime acontecer, e até temos pistas do criminoso, em O Mentalista não. Chegamos junto da equipe de Lisbon às cegas. Vemos que há uma vítima, e vamos tentar entender o que aconteceu. Assim como numa investigação comum.

Nesse trajeto investigativo, Jane surge, e já começa a utilizar seus dons, apontando aspectos que poderiam passar despercebidos na cena do crime, pelo menos de primeira mão, e ajuda a construir a cena. “A vítima está com roupas elegantes, usa terno, camisa social de marca, perfume, relógio caro. Veio de um encontro. Muito chique para um bar, então veio de um restaurante ‘fino’”. E logo em seguida isso se comprova.

Mas toda essa explicação dele é involuntária, e a equipe de Lisbon fica perdida. Sem entender nada, só observando. E é assim que nós também ficamos. Ao longo da série, vamos aprendendo o mesmo. Começamos a observar coisas no cenário, nos personagens que estão envolvidos no crime.

Para exemplificar melhor. Em CSI, somos uma terceira pessoa. Sabemos como foi o crime, talvez sabemos quem seja o criminoso. O entretenimento está em saber o motivo e em ver o desenrolar da investigação.

Com O Mentalista não. Somos parte da equipe, não sabemos como foi o assassinato, sequer imaginamos quem matou (muitas vezes nos surpreendemos no final do episódio) e claro, os motivos que levaram a atitude. E então somos guiados pelos planos e ideias de Jane, assim como a equipe inteira.

Quando o protagonista elabora um plano “mirabolante” para prender o assassino é por que ele sabe quem é o criminoso e sabe como fazê-lo se entregar. Diferente do resto da equipe e de nós.

Ao longo do seriado o grupo passa a admirar Jane e a confiar em seus dons.

Além da solução dos crimes, outro fato relevante é a “vida que passamos com eles”. Não sei exatamente quanto tempo se passa, mas em determinado episódio ouvimos que Jane já trabalha com o CBI há, pelo menos, 10 anos. Isso mesmo. Muito tempo. Então vamos sentindo que conhecemos mais e mais cada personagem. Novamente voltamos ao tópico anterior: torcemos pelos romances. Queremos ver todos bem e felizes.

A busca por Red John

Devo dizer que Red John é… brincadeira. O último ponto, e não menos importante, é a busca pelo antagonista Red John. Como já dito aqui antes, a série se baseia na solução dos crimes e na busca incessante pelo serial killer.

Ao longo do seriado, vamos descobrindo coisas muito mais misteriosas. De fato, Bruno Heller desenvolveu muito bem o enredo e os mistérios que rondam Red John. Ele vai além de um serial killer. Mas, como não vou dar spoilers, paro por aqui. O que basta dizer além é que torcemos e vamos chutando qual pode ser o seu rosto.

Tive o azar de tomar um spoiler de quem era o ator. Felizmente isso não me atrapalhou muito por que esqueci de certos detalhes que quebrariam a surpresa do assassino. Cuidado ao pesquisarem sobre bastidores de O Mentalista na internet. Podem cair no mesmo erro que eu.

Problemas

Por mim, assistiria infinitamente O Mentalista. Mas ela tem sim seus problemas. É difícil ser algo perfeito. A série é bem construída e amarrada. Seu final fecha um ciclo.

Porém, o passado deles poderia ser mais bem explorado. Sabemos poucas coisas de Jane antes de ser médium. Há um episódio em que ele relembra um momento específico do seu passado com o pai. Com Teresa, só sabemos da relação conturbada com os irmãos e mais outros detalhes que deixo para vocês assistirem. Mas nada muito além disso. Por parte de Cho, a única referência é seu envolvimento com gangues. E já com Rigsby e Van Pelt piorou, não sabemos quase nada.

Sempre me questiono sobre personagens negros. A série infelizmente não apresenta muitos. Vemos apenas dois, que são de fato importantes e do bem. E não aquele estereótipo de personagem negro vilão, ou coitado.

Quem não gosta de Mentalista olha o fato de o personagem de Simon Baker ser muito “certinho” e “saber de tudo”. Mas penso que devemos sempre ter em mente o entretenimento, os mistérios, as atuações e como se dará o desenvolvimento da série.

Particularmente guardo na minha caixa de séries favoritas. Mas entendo quem não gostou.

Em sete anos, a equipe de Lisbon se tornou nossa segunda família

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Fernando Barreto

Um pouco sobre tudo e muito sobre nada. Crônicas, analises e, talvez, romances. O que vier à mente.